UMA REFLEXÃO EM FACE DO DIA MUNDIAL DO CONSUMIDOR | para todos |
UMA REFLEXÃO EM FACE DO DIA MUNDIAL DO CONSUMIDOR
No alvorecer do Terceiro Milênio um tema surge com muita força e que nos leva a algumas reflexões acerca do mercado de consumo e, especialmente, às diferenças sócio-econômicas dos países e que transformou filmes de ficção científica em semi-documentários: a crise ambiental!
Discute-se em todo o mundo como educar as pessoas para reduzir os males ao meio ambiente. Incentivo à reciclagem, ao plantio de árvores, à economiza de energia elétrica e água etc, tornaram-se rotina na mídia. Isto implica dizer que é necessário, mais do que nunca, educar o consumidor. Educa-lo a um consumo responsável, consciente e auto sustentável.
Consumo responsável, consciente e auto sustentável não diz respeito apenas ao cuidado com o meio ambiente, mas é importante que o consumidor conheça a empresa que está lhe fornecendo o serviço ou produto comprado. Claro que é sempre apresentado por estas empresas as suas ações sociais, no entanto, é preciso que o consumidor conheça também como são tratados os empregados destas empresas, como ela se relaciona com seus fornecedores, quem são os seus fornecedores e como elas se agem com os consumidores que precisam solucionar algum problema decorrente do produto ou serviço adquirido.
O novo consumidor não ficará satisfeito apenas em saber que sua fornecedora não polui ou ao menos se empenha em poluir menos, mas exigirá uma empresa responsável diante de toda a sociedade.
É importante ressaltar que as empresas, objetivando aumentar suas vendas, instigam as pessoas ao consumo, mas não apenas a adquirir um produto ou serviço, mas a adquiri-lo a todo e qualquer preço, ainda que tal aquisição implique na derrocada econômica do indivíduo.
Há uma máxima da economia capitalista que preconiza: "as necessidades do homem são ilimitadas" e este é o mote para os empresários açoitarem os consumidores com suas inúmeras promoções, publicidades, imagens, sons, ícones e mensagens, sempre induzindo ao maior e "melhor" produto ou serviço.
As empresas possuem as mais variadas ferramentas para atrair os consumidores, como o customer relationship management (CRM), o marketing one-to-one, os cockies(na internet) e as mais variadas e questionadas "pesquisas de mercado", feitas sob encomenda para o lançamento ou promoção de certo produto ou serviço, e, não bastassem estas e outros loquazes instrumentos do marketing, usam ainda o mais irritante, porém eficaz, método de venda de produtos e serviços: os hipnóticos call centers!
O Direito tenta acompanhar estas técnicas com o intuito de proteger os cidadãos das armadilhas e das estradas de tijolos dourados que o levam ao final do arco-íris do consumo, mas todas as iniciativas, ainda que úteis, restam sempre atrasadas e têm sua eficácia limitada por conta de novas tecnologias e técnicas de indução ao consumo.
É importante ressaltar que a crise ambiental é o grande problema do Planeta Terra, no entanto, há problemas causados a cada consumidor, ou melhor, a cada pessoa, problemas estes que causam crises de proporções continentais.
Em alguns países da África, por exemplo, a água é pré-paga. Terminando a cota adquirida pelo consumidor (leia-se, ser humano), ele e sua família, deverão aguardar até o próximo mês.
No Brasil temos uma série de graves problemas com o consumo desenfreado que é estimulado diariamente pelas empresas, vejamos apenas uma destas situações: o consumidor adquire produtos e serviços; o trabalhador perde seu emprego; o desempregado tem suas contas vencidas; os juros dos bancos e dos cartões de crédito são enormes; o nome do devedor é inserido num cadastro de inadimplentes; o pobre coitado não consegue um emprego; e, o marginal passa ao crime para sobreviver. Dramático? Sim, mas é uma realidade. E uma realidade recorrente.
O consumo, ou melhor, a tirania do consumo, leva à pobreza e, não raro, à marginalidade. E vejam que os pobres são os que mais caro pagam por produtos ou serviços. Aos pobres são destinadas as vendas a longo prazo, com juros que dobram ou triplicam o valor real do bem/serviço adquirido. Aos pobres são destinadas as conhecidas "financeiras" que emprestam dinheiro facilmente a um preço elevadíssimo. Tudo para saciar a sede e a fome do consumidor.
No passado, ao produzir produtos as empresas buscavam manipular a opinião do consumidor para comprá-lo ou induzi-lo à necessidade de ter aquilo. Esta noção de produção mudou. O geógrafo baiano, e cidadão do mundo, Milton Santos em seu livro "Por uma Outra Globalização – do pensamento único à consciência universal escreveu:
"Atualmente as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede à produção dos bens e serviços" (grifamos).
Ainda, segundo Milton Santos, a chamada autonomia da produção cedeu lugar ao despotismo do consumo!!!
Ora, verifica-se que é injusto e temerário afirmar-se que a crise é apenas ambiental. A crise é também moral. Afinal é ou não é imoral a forma como as pessoas são levadas a consumir produtos e serviços dos quais sempre prescindiram num momento em que se morre de fome e de sede nos seis continentes?
Será que alguma empresa se preocupa realmente com o endividamento do consumidor? Ou com a quantidade de calorias por ele consumida? Ou mesmo com a qualidade do ar que ele respira?
Sim, as empresas se preocupam quando há efeitos diretos em seus negócios. Se há a preocupação com o endividamento, é para que o consumidor pague as contas dos produtos e serviços contratados em dia. Se há preocupação com as calorias consumidas é para que se compre medicamentos/cosméticos/roupas etc. E se há preocupação com o ar que o consumidor respira é para, quem sabe, vender-se máscaras de Oxigênio...
As crianças crescem com esta tirania do consumo, mentalizando a todo instante a importância e a necessidade vital de adquirir produtos e serviços em geral descartáveis, sempre ouvindo constantemente a palavra TER, TER, TER, TER... E isso traz conseqüências gravosas! Quantas adolescentes, ainda que de famílias de classe média, são levadas à prostituição para comprar roupas de griffe? Ou quantos jovens distorcem o conceito de empreendedorismo para "hackear" sites e sabotar contas bancárias de incautos? Tudo para obter-se dinheiro, dinheiro este que será utilizado única e exclusivamente, para comprar "coisas".
Neste novo milênio é necessário educar as pessoas para tornarem-se consumidores arredios, ou melhor cidadãos arredios que adquirirão produtos e serviços essenciais, úteis, necessários e vitais para a sua rotina. Ressalte-se que não se pretende aqui cometer-se a falácia de instigar as pessoas a viverem como se vivia há cem anos, ou a apontar uma vida naturista como ideal, mas sim a provocar os cidadãos a adquirir produtos e serviços compatíveis com seu dia a dia, com sua renda e com suas prioridades pessoais e profissionais.
É preciso iniciar-se a Era de Aquário (a Era da Paz), ou o novo Aeon, profetizado e cantado por Raul Seixas, participando do processo de educação do cidadão para redefinir o conceito de felicidade. A felicidade não pode se traduzir na quantidade de bens e serviços comprados pelo consumidor, mas sim na qualidade de vida de cada pessoa, decorrente de um consumo consciente, responsável e auto sustentável.
por Augusto Cruz
Nenhum comentário:
Postar um comentário