CIRCUITO CULTURAL » História viva no palácio - Bertha Maakaroun
Palácio da Liberdade ganha projeto museográfico no qual personagens ilustres do estado surgirão em versão 3D e em uma viagem interativa contarão ao visitante sua versão dos fatos
Os personagens que, de dentro do Palácio da Liberdade, construíram a história de Minas e do Brasil, enfrentando dilemas e conflitos políticos, ganharão vida. Dentro do projeto museográfico do Palácio da Liberdade, a partir de dezembro, com óculos tridimensionais e um sistema auditivo, os visitantes verão saltar diante de si, ao passar por um espelho ou outro elemento do mobiliário, a imagem tridimensional de homens que marcaram época. Bias Fortes, João Pinheiro, Venceslau Brás, Artur Bernardes, Raul Soares, entre outros presidentes de Minas da República Velha até Juscelino Kubitschek e grandes nomes da Nova República, como Tancredo Neves e Itamar Franco, contarão passagens significativas de seus governos. Foi da sacada do palácio, por exemplo, que Tancredo fez seu histórico discurso como governador eleito de Minas em 1982: “O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”.
Sede histórica do governo do estado do fim do século 19, em seus mais de 30 cômodos elegantemente decorados com elementos neoclássicos do 2º Império Francês, o Palácio da Liberdade serviu de residência para vários governadores, além de sede do Executivo até março de 2010.
A imersão dos visitantes do Palácio da Liberdade, que já integra o circuito cultural da Praça da Liberdade, nessa viagem interativa no tempo é um projeto de R$ 850 mil, segundo acordo de cooperação técnica firmado ontem entre o governador Antonio Anastasia (PSDB) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Segundo o autor do projeto, o designer de exposições Marcello Dantas, o processo de interação das pessoas com a história se dará em três níveis. “O primeiro conteúdo ocorre diretamente no corpo da pessoa, através dos óculos tridimensionais e do sistema auditivo que vai narrar espaços como um todo”, explica Dantas. O segundo nível de conteúdo refere-se às intervenções sobre os espaços específicos. Como o acervo do palácio está restaurado e não poderá ser tocado, os equipamentos serão instalados por trás de espelhos, em porta-retratos. “A presença do visitante em determinados locais vai acionar personagens e histórias diferentes. Esses personagens contarão na primeira pessoa fatos que viveram.”
O projeto tem a preocupação de não gerar intervenção física sobre o espaço. “As intervenções serão mínimas, sempre no sentido de esconder o equipamento em algum elemento do mobiliário, evitando que a arquitetura do espaço seja ofuscada”, afirma Dantas.
Não haverá uma sequência cronológica de conteúdos de um ambiente ao outro. “Haverá um lugar no palácio que indicará uma cronologia e situará os episódios nos diferentes espaços. Mas, dentro dos ambientes, serão selecionados os acontecimentos segundo mérito e nos locais em que ocorreram”, esclarece o designer. “Há tanta história para ser contada que provavelmente serão necessários rodízios”, sugeriu ontem Antonio Anastasia.
Pedra fundamental é o merco temporal
As temáticas serão sempre de grande impacto histórico e tratarão do século 20, uma vez que o marco temporal será o lançamento da pedra fundamental do Palácio da Liberdade, que ocorreu em 7 de setembro de 1895, período em que a capital se transferia de Ouro Preto para Belo Horizonte. É assim que, em certo recinto, Olegário Maciel saltará em 3D e contará sobre a sua participação na Revolução de 30. Presidente de Minas, depois de hesitar em aderir ao Rio Grande do Sul e à Paraíba no movimento que levaria o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, à Presidência da República, Olegário Maciel relatará como, de Belo Horizonte, tornou-se o “general civil” da revolução. Ele foi o único dos presidentes estaduais a ser mantido por Vargas em seu cargo. Para todos os demais, o novo presidente nomeou interventores federais. Tempos difíceis se seguiram à Revolução de 30. Entre idas e vindas, Olegário Maciel optaria por permanecer ao lado de Vargas contra o movimento constitucionalista de 1932 que brotava de São Paulo.
Em outro ambiente, Juscelino Kubitschek, que depois de prefeito de Belo Horizonte foi governador entre janeiro de 1951 e março de 1955, fala de quando passou o bastão a Clóvis Salgado, do PR, para se candidatar à Presidência da República. Um ponto decisivo para que o PSD escolhesse JK foi o fato de ter obtido o apoio de Artur Bernardes. JK prometeu em 1952 que, em dois anos, construiria uma usina siderúrgica e cumpriu: em 12 de agosto de 1954 foi inaugurada, com a presença do presidente Getúlio Vargas, a Siderúrgica Mannesmann, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. JK foi o responsável pela construção de Brasília, executando, assim, um antigo projeto, já previsto em três constituições brasileiras, da mudança da capital federal para promover o desenvolvimento do interior do Brasil e a integração do país. Durante todo o seu mandato como presidente da República, o Brasil viveu um período de desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política.
Décadas mais tarde, um outro mineiro chegaria à Presidência da República. As articulações para a candidatura de Tancredo Neves começaram em 1983 quando recebeu a visita, no Palácio da Liberdade, de 15 senadores do PMDB. Propunha-se que concorresse ao Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Após um acordo firmado entre o PMDB e a dissidência Frente Liberal do PDS ficou estabelecido que Tancredo Neves seria o candidato a presidente e José Sarney (ex-Arena, e que deixara o PDS para se filiar ao PMDB) o candidato a vice-presidente.
Tancredo foi lançado candidato por ser aceito por grande parte dos militares e tido como moderado. Na área militar foi decisivo o apoio do ex-presidente Ernesto Geisel. Essa moderação, porém, era alvo de críticas do PT ,que não aceitava o Colégio Eleitoral. Sob sua moderação Tancredo dizia: “Se é mineiro não é radical, se é radical não é mineiro”. Eleito indiretamente para a Presidência, Tancredo foi internado na véspera da posse, em 14 de março de 1985, com fortes e repetidas dores abdominais. Houve grande comoção nacional quando morreu. Foi velado no Palácio da Liberdade, onde foram articulados as principais cartadas da derrocada do regime militar.
Bertha Maakaroun
Publicação: 29/05/2012 04:00
![]() | |
O projeto não vai gerar intervenção física sobre os mais de 30 cômodos do Palácio da Liberdade, construído no fim do século 19: todos os equipamentos serão instalados por trás de espelhos e móveis |
Os personagens que, de dentro do Palácio da Liberdade, construíram a história de Minas e do Brasil, enfrentando dilemas e conflitos políticos, ganharão vida. Dentro do projeto museográfico do Palácio da Liberdade, a partir de dezembro, com óculos tridimensionais e um sistema auditivo, os visitantes verão saltar diante de si, ao passar por um espelho ou outro elemento do mobiliário, a imagem tridimensional de homens que marcaram época. Bias Fortes, João Pinheiro, Venceslau Brás, Artur Bernardes, Raul Soares, entre outros presidentes de Minas da República Velha até Juscelino Kubitschek e grandes nomes da Nova República, como Tancredo Neves e Itamar Franco, contarão passagens significativas de seus governos. Foi da sacada do palácio, por exemplo, que Tancredo fez seu histórico discurso como governador eleito de Minas em 1982: “O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”.
Sede histórica do governo do estado do fim do século 19, em seus mais de 30 cômodos elegantemente decorados com elementos neoclássicos do 2º Império Francês, o Palácio da Liberdade serviu de residência para vários governadores, além de sede do Executivo até março de 2010.
A imersão dos visitantes do Palácio da Liberdade, que já integra o circuito cultural da Praça da Liberdade, nessa viagem interativa no tempo é um projeto de R$ 850 mil, segundo acordo de cooperação técnica firmado ontem entre o governador Antonio Anastasia (PSDB) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Segundo o autor do projeto, o designer de exposições Marcello Dantas, o processo de interação das pessoas com a história se dará em três níveis. “O primeiro conteúdo ocorre diretamente no corpo da pessoa, através dos óculos tridimensionais e do sistema auditivo que vai narrar espaços como um todo”, explica Dantas. O segundo nível de conteúdo refere-se às intervenções sobre os espaços específicos. Como o acervo do palácio está restaurado e não poderá ser tocado, os equipamentos serão instalados por trás de espelhos, em porta-retratos. “A presença do visitante em determinados locais vai acionar personagens e histórias diferentes. Esses personagens contarão na primeira pessoa fatos que viveram.”
O projeto tem a preocupação de não gerar intervenção física sobre o espaço. “As intervenções serão mínimas, sempre no sentido de esconder o equipamento em algum elemento do mobiliário, evitando que a arquitetura do espaço seja ofuscada”, afirma Dantas.
Não haverá uma sequência cronológica de conteúdos de um ambiente ao outro. “Haverá um lugar no palácio que indicará uma cronologia e situará os episódios nos diferentes espaços. Mas, dentro dos ambientes, serão selecionados os acontecimentos segundo mérito e nos locais em que ocorreram”, esclarece o designer. “Há tanta história para ser contada que provavelmente serão necessários rodízios”, sugeriu ontem Antonio Anastasia.
Pedra fundamental é o merco temporal
As temáticas serão sempre de grande impacto histórico e tratarão do século 20, uma vez que o marco temporal será o lançamento da pedra fundamental do Palácio da Liberdade, que ocorreu em 7 de setembro de 1895, período em que a capital se transferia de Ouro Preto para Belo Horizonte. É assim que, em certo recinto, Olegário Maciel saltará em 3D e contará sobre a sua participação na Revolução de 30. Presidente de Minas, depois de hesitar em aderir ao Rio Grande do Sul e à Paraíba no movimento que levaria o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, à Presidência da República, Olegário Maciel relatará como, de Belo Horizonte, tornou-se o “general civil” da revolução. Ele foi o único dos presidentes estaduais a ser mantido por Vargas em seu cargo. Para todos os demais, o novo presidente nomeou interventores federais. Tempos difíceis se seguiram à Revolução de 30. Entre idas e vindas, Olegário Maciel optaria por permanecer ao lado de Vargas contra o movimento constitucionalista de 1932 que brotava de São Paulo.
Em outro ambiente, Juscelino Kubitschek, que depois de prefeito de Belo Horizonte foi governador entre janeiro de 1951 e março de 1955, fala de quando passou o bastão a Clóvis Salgado, do PR, para se candidatar à Presidência da República. Um ponto decisivo para que o PSD escolhesse JK foi o fato de ter obtido o apoio de Artur Bernardes. JK prometeu em 1952 que, em dois anos, construiria uma usina siderúrgica e cumpriu: em 12 de agosto de 1954 foi inaugurada, com a presença do presidente Getúlio Vargas, a Siderúrgica Mannesmann, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. JK foi o responsável pela construção de Brasília, executando, assim, um antigo projeto, já previsto em três constituições brasileiras, da mudança da capital federal para promover o desenvolvimento do interior do Brasil e a integração do país. Durante todo o seu mandato como presidente da República, o Brasil viveu um período de desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política.
Décadas mais tarde, um outro mineiro chegaria à Presidência da República. As articulações para a candidatura de Tancredo Neves começaram em 1983 quando recebeu a visita, no Palácio da Liberdade, de 15 senadores do PMDB. Propunha-se que concorresse ao Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Após um acordo firmado entre o PMDB e a dissidência Frente Liberal do PDS ficou estabelecido que Tancredo Neves seria o candidato a presidente e José Sarney (ex-Arena, e que deixara o PDS para se filiar ao PMDB) o candidato a vice-presidente.
Tancredo foi lançado candidato por ser aceito por grande parte dos militares e tido como moderado. Na área militar foi decisivo o apoio do ex-presidente Ernesto Geisel. Essa moderação, porém, era alvo de críticas do PT ,que não aceitava o Colégio Eleitoral. Sob sua moderação Tancredo dizia: “Se é mineiro não é radical, se é radical não é mineiro”. Eleito indiretamente para a Presidência, Tancredo foi internado na véspera da posse, em 14 de março de 1985, com fortes e repetidas dores abdominais. Houve grande comoção nacional quando morreu. Foi velado no Palácio da Liberdade, onde foram articulados as principais cartadas da derrocada do regime militar.
Estado de Minas
29/05/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário