domingo, 24 de março de 2013


BRASIL CELEBRA PELA PRIMEIRA VEZ DIA INTERNACIONAL DA VERDADE.

Evento foi organizado por Maria Rita Kehl, integrante da Comissão da Verdade.

O ensaísta José Miguel Wisnik, colunista do GLOBO, estudava Filosofia na USP em 1968, mesmo ano em que estudantes da Universidade de São Paulo, que protestavam contra a ditadura, se enfrentaram com alunos defensores do regime militar da particular Mackenzie. O local era o prédio da USP na rua Maria Antônia, no bairro de Higienópolis. A Batalha da Maria Antônia, episódio importante da história brasileira, foi lembrada neste domingo por cerca de 200 pessoas que foram à sede da USP celebrar, pela primeira vez no Brasil, o Dia Internacional da Verdade. O evento foi organizado pela psicanalista e ensaísta Maria Rita Kehl, integrante da Comissão da Verdade. O grupo investiga vítimas e algozes do regime militar brasileiro (1964-1985). Um evento semelhante seria realizado também no Rio.
- Quisemos usar a data (criada pela ONU em 2010 como Dia Internacional para o Direito à Verdade sobre Violações Graves de Direitos Humanos e para a Dignidade das Vítima, em homenagem ao arcebispo de El Salvador Oscar Romero, assassinado em 24 de março de 1980 após protestar contra a violência e a Injustiça em seu país) para lembrar o passo importante que estamos dando em esclarecer a verdade no Brasil. O povo tem direito à verdade e ela agora está sendo resgatada (com a Comissão da Verdade) - disse Maria Rita.
Antes de cantar ao lado de Celso Sim “A liberdade é bonita, mas não é infinita”, feita em parceira com Jorge Mautner, Wisnik homenageou alunos da USP, “lembro de uma japonesinha que morreu no Araguaia”, que “partiram para desejos de transformação da sociedade brasileira”.
- Em vez de quererem se inserir no mercado de trabalho, naquele tempo os estudantes queriam é se inserir no mundo - disse Wisnik, para quem a “mentira maiúscula é de que nada disso aconteceu”.
- Nós temos na vida política brasileira os mortos e os desaparecidos na ditadura e temos uma forma mais perversa e sinistra do desaparecido político que é o torturador. Os torturados sustentam sua verdade, mesmo na sua ausência, enquanto os outros, covardes, simplesmente não admitem a nomeação dos atos pelos quais são os responsáveis.
O evento teve a participação ainda da Companhia do Latão, da rapper Roberta Estrela D´ Alva e do grupo Ilú Oba.
Maria Rita disse que o relatório final da Comissão da Verdade sai em maio de 2016 e que, apesar de a verdade desta vez não ter caráter de punir os culpados, ela espera um “impacto na sociedade brasileira”. O mesmo pensa o dramaturgo, diretor e advogado César Vieira, um dos fundadores do Teatro Popular União e Olho Vivo, e que defendeu vários presos políticos na época do regime militar, além de ter sido um dos ideólogos da Lei da Anistia de 1979.
- Naquela época, a Lei da Anistia era o melhor que podíamos ter, um avanço. O que queríamos era soltar e trazer de volta as pessoas. Ela foi realmente negociada (com os militares). Agora, acho que poderíamos, sim , dar um passo maior. Se este Congresso não fosse tão conservador, dominado por latifundiários, evangélicos, talvez pudéssemos ter uma lei para punir culpados, torturadores. Lá atrás não tínhamos como pensar nisso.
O médico Daniel Aymoré Ferreira, de 38 anos, aproveitou o evento para expor o que para ele é são “outras mentiras do atual Brasil”. Segurando uma placa com os dizeres “Com Renan e Feliciano a democracia é uma mentira”, ele criticou a atual democracia que elege “pessoas que não representam e sim desonram seu povo” - como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Fonte: Mariana Timóteo da Costa/O Globo

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