Entrevistei Amanda Gurgel : " Minha Vida Não Mudou Continuo Com O Mesmo Salário"
SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JUNHO DE 2011
Por Wilma Rejane
Amanda Gurgel é a professora que ficou famosa depois de fazer um pronunciamento de oito minutos na comissão de educação da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. O vídeo em que Amanda expõe o caos na educação e as dificuldades da profissão já foi visto por mais de um milhão de internautas. Solteira, sem filhos e afastada das salas de aula desde 2008 por conta de uma depressão, ela exerce cargos administrativos na biblioteca e salas de informática das escolas em Natal.
Amanda esteve em Teresina, no último Sábado por conta das comemorações de aniversário de um ano da Central Sindical e Popular Conlutas que entre outras bandeiras defende melhores condições de trabalho para a classe de professores. O centro do debate, contudo foi o PNE do governo Dilma: 10% do PIB já para educação.
Cheguei cedo ao evento, na intenção de entrevistá-la e consegui. Amanda foi muito receptiva e respondeu as perguntas com a mesma voz firme e segura com que fez o famoso pronunciamento. Meu esposo Franklin tirou muitas fotos da reunião e especialmente de mim e da Amanda, infelizmente a máquina apresentou problemas e as fotos ficaram como vultos o que impossibilitou a divulgação. No fim do artigo divulgo uma foto, tirada com a câmera do celular em que estou entrevistando a professora Amanda. Corri até o pessoal do sindicato e arrumei mais algumas fotos que ilustram o artigo. O tempo foi curto, mas deu para conseguir informações inéditas e importantes.
Amanda, você esperava que seu pronunciamento fizesse tanto sucesso a ponto de se transformar nesse movimento que se vê aqui hoje?
Não esperava que tudo isso acontecesse, mas aconteceu por um reflexo do caos em que a educação se encontra, e já que aconteceu, nós estamos agarrando com todas as forças a oportunidade de abrir um debate nacional sobre Educação e sobre o que nós professores necessitamos.
Amanda na mesa do debate com representante do Com lutas
O que mudou em sua vida após a exibição e o sucesso do vídeo no You Tube?
Na minha vida, do ponto de vista estrutural não mudou nada. Continuo recebendo o mesmo salário, nós professores do Rio Grande do Norte, não tivemos proposta nenhuma por parte da governadora, continuamos em greve, nessa luta pelo menos pela implantação de uma lei, né? A lei da implantação do piso Nacional, de uma forma digna de salário. Agora, a minha rotina está temporariamente alterada porque estou fazendo mesmo um esforço para atender a esses convites que estão sendo feitos, porque estou entendendo que é importante construirmos esse movimento de articulação Nacional das nossas lutas.
O Rio Grande do Norte está sendo bem atuante na greve, os professores têm resistido às ameaças. Você atribui esse comportamento a sua participação na causa, já que nos outros estados a greve durou pouco e não obteve sucesso?
Nós estamos resistindo bravamente, não está sendo fácil também, os professores sofrem com as mesmas questões que surgem de reposição de aulas e tudo mais, acontece. Não acredito que seja pela minha presença, mas pelo descaso do governo, não tinha como retornarmos ao trabalho com aquela proposta que foi apresentada pela governadora Rosalba de implementação do piso parcelado em quatro vezes a partir de Setembro.
O governo Dilma já lhe fez alguma proposta de composição de pasta em assuntos ligados a educação?
Não recebi não, até porque acho que eles não teriam essa audácia. Eu jamais iria me propor a compor um governo que não priorize a educação como é o governo de Rosalba no Rio Grande do Norte, de Micarla em Natal e o próprio governo Dilma, então acho que eles não teriam essa coragem, digamos assim.
Como tem sido a receptividade dos professores em todo o Brasil sobre essa campanha do PIB?
Tem sido ótima. Os professores se identificaram com a minha fala, mesmo porque ficou comprovado, através da reação das pessoas que essa é a realidade no Brasil inteiro. As pessoas se identificam e por isso acabam me identificando também como uma porta voz, alguém que fala em nome dos professores.
Você está percorrendo o Brasil na defesa de 10% do PIB para a educação, os governos estaduais tem se sensibilizado com a campanha?
Professores e sindicatos têm participado, levantado suas angústias no Brasil inteiro. Acredito que a partir do envolvimento dessas pessoas, na defesa das mudanças para educação que inclui os 10% do PIB já, os governos estaduais se sintam pressionados, que revejam suas posições em relação aos professores. Aqui no Piauí, por exemplo, torço para que uma decisão seja tomada em relação aos professores da Universidade Estadual que saíram recentemente de uma greve.
Auditório do Liceu pouco antes de iniciar o evento
Amanda, essa é uma curiosidade geral: Você vai se candidatar a algum cargo político?
Mulher eu não tenho nem condições de pensar sobre isso, estou tão inserida nesse debate, tão envolvida mesmo com isso que eu não tenho condições de pensar sobre isso (repetindo). A minha prioridade sempre foi construir a luta, né? Assim como é a prioridade de meu partido, eu acho que todo mundo sabe que eu tenho um partido que é o PSTU, não é um partido eleitoreiro, a nossa prioridade é construir a luta dos trabalhadores e é isso que nós estamos querendo nesse momento.
Foto de celular: Amanda Gurgel sentada concedendo entrevista para mim e um outro jornalista de Teresina.
por Wilma Rejane
Marcadores: Entrevistas, Notícias, UBE 2011, Wilma Rejane
Nenhum comentário:
Postar um comentário